Bienal do Livro Bahia volta a acontecer em 2022 e supera expectativas

Foram mais de 90 mil visitantes em seis dias de atividades no Centro de Convenções Salvador

A Bienal do Livro Bahia voltou a ser realizada em 2022, após um intervalo de nove anos, e superou todas as expectativas – de expositores, de público e de crítica. Entre os dias 10 e 15 de novembro, no Centro de Convenções Salvador, mais de 90 mil pessoas visitaram os estandes que foram montados em dois pavilhões do prédio e que representaram mais de 150 marcas expositoras e stakeholders do mercado editorial. Esse público superou a meta inicial de 80 mil pessoas, que havia sido prevista pela GL events, multinacional francesa, de negócios e entretenimento, responsável pela realização do evento.

Em todas as edições já realizadas da Bienal do Livro Bahia, o recorde de público em um único dia foi atingido exatamente na edição 2022, no sábado [12/11], com 20 mil pessoas circulando pela área de exposição. Além disso, esse também foi o público máximo já registrado em um só dia no Centro de Convenções Salvador, desde que ele foi inaugurado, em janeiro de 2020. Os visitantes também lotaram os três espaços onde aconteceram a programação cultural da Bienal: Café Literário, Arena Jovem e Espaço Infantil, que contaram com debates, conversas e atividades para adultos, adolescentes e crianças.

Embora seja a décima primeira edição, a Bienal do Livro Bahia 2022 está sendo vista pela organização como um relançamento, não só por causa do tempo que o evento ficou sem acontecer, mas, também, por apresentar um novo formato, que conecta a literatura com outros meios, especialmente a Internet. O livro continua sendo a estrela principal, mas as narrativas são igualmente importantes e elas aparecem, por exemplo, através de filmes, séries e jogos. Com isso, a Bienal voltará a acontecer a cada dois anos e a expectativa pra 2024 é enorme, pois seguirá nesse novo formato, porém de forma ainda mais ampliada, já que funcionou e teve grande adesão do público.

Além disso, a ação Bienal nas Escolas, por meio da qual a Bienal leva autores a escolas públicas municipais de Salvador, para bate-papos, oficinas, leituras, dinâmicas literárias e outras atividades, também deve ser ampliada. Em 2022, a escritora Thalita Rebouças e a ilustradora Ilustralu realizaram essas atividades na escola Adroaldo Ribeiro Costa (no bairro do Resgate) e na escola Ministro Carlos Santana (no bairro da Fazenda Grande). Ou seja, a Bienal do Livro Bahia não começou no dia 10 de novembro e não termina no dia 15 de novembro. Ela segue acontecendo para além dos dias de realização do próprio evento.

Recebendo um investimento de pouco mais de R$ 5 milhões, a Bienal do Livro Bahia contou com o patrocínio master da Colgate, que ainda assinou o espaço Arena Jovem, os patrocínios das empresas Supergasbras, Skeelo, Suzano, Ferbasa, Bracell e Accor, e o apoio da Prefeitura de Salvador, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo e da Fundação Gregório de Matos. Foram mais de 70 horas de conteúdo produzido, com uma proposta de pluralidade, pelos mais de 100 autores e personalidades convidados.

Resultados dos expositores

No Boulevard Literário, espaço que reuniu cinco dos maiores grupos editoriais do país, o faturamento, até o penúltimo dia de evento, já havia atingido os R$ 400 mil estimados previamente pelos expositores. As obras É Assim Que Começa, É Assim Que Acaba, da norte-americana Colleen Hoover, A Biblioteca da Meia-noite, do romancista inglês Matt Haig, e Torto Arado, do baiano Itamar Vieira Júnior, foram as mais vendidas. Torto Arado e A Biblioteca da Meia-noite esgotaram.

Para a responsável pelo estande, Cláudia Machado, além do retorno financeiro satisfatório, a Bienal do Livro Bahia serviu também para conhecer melhor o perfil dos leitores do nosso estado. “Sentimos que há uma diferença grande no perfil do leitor baiano em relação aos do Rio e São Paulo. Lá o foco é muito forte na literatura infantojuvenil. Já aqui sentimos que há também um interesse grande pelos clássicos”, disse.

A observação de Cláudia se repetiu em outros estandes, como o da editora Ciranda Cultural, onde os expositores elogiaram a organização da Bienal do Livro Bahia e emplacaram dois livros na liderança do ranking de mais vendidos: 1984, de George Orwell, e O Diário de Anne Frank.

No estande da livraria LDM, antes do término da Bienal do Livro Bahia, o volume de vendas já havia superado 20% das expectativas. O responsável pelo espaço, Primo Luiz Maldonado, destacou ainda o potencial divulgador da feira e a boa troca com o público. “Inauguramos uma nova loja no Shopping Bela Vista e nós esperamos expandir cada vez mais o nosso trabalho”. Entre os títulos mais vendidos pela LDM estiveram: É Assim Que Começa, É Assim Que Acaba e Torto Arado.

Além dos preços atrativos e variedade de títulos, as vendas da LDM foram impulsionadas também pelos lançamentos de autores como Lívia Vaz e Sidnei Nogueira, e sessões de autógrafos com diversos outros escritores, a exemplo de Pedro Rhuas, Itamar Vieira Junior e Eliana Alves Cruz.

A editora Letra vendeu um total de R$ 120 mil, um resultado considerado muito satisfatório, enquanto a Bookshop teve grande escoamento de livros de literatura estrangeira.

Literatura negra

Os leitores também levaram para casa boa parte dos estoques trazidos pelas editoras Malê e Mostarda. Ambas fizeram sua estreia em eventos na Bahia e têm a temática da inclusão e afrodescendência como foco das suas publicações.

Na Malê, entre as obras mais vendidas estão Insubmissas Lágrimas de Mulheres, de Conceição Evaristo, Água de Barrela, de Eliana Alves Cruz, e Contos de Axé, de Marcelo Moutinho. Enquanto na Mostarda, os exemplares de Maria Felipa, Mestre Didi e Milton Santos, da coleção de Personalidades Negras, lideraram as vendas.

Assim como outros espaços, as editoras investiram em ações, como os lançamento das obras de Eliana Alves Cruz e Giovana Xavier, na Malê, e das obras sobre Maria Felipa, Mestre Didi e Harriet Tubman no estande da Mostarda. Tudo isso fez com que as empresas tivessem um bom faturamento e superassem em até 20% o lucro previsto para o evento.


Editoras baianas satisfeitas

Esse ano, diversas editoras baianas também marcaram presença na Bienal do Livro Bahia. No espaço da Fundação Gregório de Matos, que abrigou um grupo delas, a Casa das Editoras Baiana, o clima era de animação com os números alcançados.

Na P55, por exemplo, André Portugal comemorou o fato de as vendas terem sido o triplo do esperado. Segundo ele, o diferencial do espaço como um todo foi vender obras regionais e livros de arte que retratam a Bahia. Entre os mais vendidos pela P55 ao longo dos seis dias de evento estão Bahia Vista por um Passarinho, de Rui Rezende, Uma Cidade, Uma Rua, Uma Igreja, de Antônio Risério, e Rock Circus, de Dênisson Padilha.

Para Fernando Oberlander, da editora Caramurê, as vendas também atenderam às expectativas e o evento como um todo foi muito bom. Entre os títulos mais vendidos no seu estande estão obras como Histórias e histórias da Bahia e A Cidade da Bahia e a Eletricidade.

No espaço da Edufba, a editora da Universidade Federal da Bahia, entre os títulos mais procurados estão História de Salvador nos nomes das suas ruas, de Luiz Eduardo Dórea, e Lendas Africanas dos Orixás.

Quem também deixou a Bienal do Livro Bahia feliz foi o pessoal da Trem Fantasma, editora soteropolitana especializada em histórias em quadrinhos. Ao longo dos cinco dias de evento, as HQs foram bastante procuradas no estande que contou com sessões de autógrafos e apresentações de ilustradores. “As vendas foram bastante surpreendentes e o evento serviu também para nos tornarmos mais conhecidos aqui”, comemorou Marcello Fontana.


Autores independentes

Na ala dos autores independentes também foi possível encontrar escritores felizes com o que vivenciaram. Naturais de Jequié, os jovens escritores Aurélio Nery e Raiana Soares dividiram um estande para lançarem juntos as suas obras. Ele trouxe Teia de Vidro e ela Os Olhos de Bastet. Ambos fizeram suas estreias em bienais.

Juntos, Raiana e Aurélio venderam praticamente dois terços dos exemplares que trouxeram. Além disso, ganharam seguidores nas redes sociais e conheceram diversos colegas de ofício.

“Foi muito boa a interação com o público. Muitas pessoas que comparam nossos livros já voltaram aqui para dizer que gostaram das histórias. Isso é algo mágico”, disse Raiana.

“Muitas pessoas compram os nossos livros sem nem nos conhecer. Teve gente até que deixou de comprar um exemplar de um escritor famoso para adquirir um título nosso”, completou Aurélio.

Silvana Silveira, que dividiu estande com o natalense Fernando Campos, elogiou a organização do evento e a divulgação. “A Bienal do Livro Bahia bombou e nós vendemos bem”, disse. Fernando completou: “sinto que a organização entregou tudo o que devia para fazermos um grande evento”. 

Novidades para o mercado literário da Bahia

A Bienal do Livro Bahia se consagra como um dos maiores eventos literários do país – não apenas pelo seu expressivo número de visitantes, mas também pela diversidade de produtos e atrações que ocuparam os estandes. O público baiano fez contato com novidades do mundo literário ainda pouco conhecidas. Desse modo, o evento cumpre o seu papel de fomentar a literatura e democratizar o conhecimento. Entre os estandes mais diferentes estiveram o da Guarderia de Meninos, que é uma loja de souvenirs literários, e o da Escola Ybá do Quintal, que oferecia atividades como pintura, contação de histórias e ações educativas voltadas para a conscientização ambiental. A professora Quésia Jesus considerou a participação na Bienal muito positiva, pois muitas pessoas passaram a conhecer a escola a partir do evento.


Livro inclusivo

A editora Mostarda foi uma dessas grandes novidades que chegaram à Bienal do Livro Bahia. Sediada em Campinas, no interior de São Paulo, a empresa realiza vendas on-line e participa de festivais. Essa foi a primeira vez que a Mostarda veio para a Bahia.

A editora tem como ponto forte produzir livros inclusivos sobre pensadores negros. Além de muito bem diagramado, o livro da Mostarda é adaptado para a leitura em braile, para pessoas com baixa visão e aquelas sem deficiência. Ou seja, são diferentes produtos em um livro só.

O catálogo da editora reúne diversos autores, entre eles a magistrada Flávia M. Carvalho, primeira juíza auxiliar no Supremo Tribunal Federal (STF) negra do nosso país.

Para a Bienal do Livro Bahia, a Mostarda trouxe mais de 25 títulos. Além disso, diariamente o estande tem sido palco de debates com autores que estão no time da editora.

O jornalista, escritor e influenciador digital do Rio Grande do Norte Fernando Campos, 29 anos, se sentiu muito representado ao chegar no estande da Mostrada e encontrar livros tão bem feitos em braile. Fernando é cego e precisa das mãos para fazer contato com a literatura.

Ele conta que o seu trabalho na internet busca justamente trazer a representatividade para as pessoas com deficiência e que encontrar um conteúdo tão rico, com os desenhos e textos em braile traz pertencimento. “As pessoas cegas que chegam aqui e encontram um material como esse se sentem contempladas, representadas e isso é fundamental”, disse.

Fernando veio à Bienal do Livro Bahia também como autor do livro Enxergando Além do Atlântico – Uma Jornada pelo Reino Unido, que pode ser encontrado na Amazon e no próprio evento. O livro tem prefácio assinado pelo músico Carlinhos Brown e conta as aventuras de um jovem cego morando sozinho em outro país.


Páginas da diversidade

A Malê, editora do Rio de Janeiro criada em 2015, prioriza a publicação de autores e autoras negros e preza pela diversidade. Apesar de não ser baiana, a Malê mantém entre os cerca de 80 nomes do seu time, com mais de 100 obras no catálogo, diversos autores do nosso estado. Entre eles Cássia Valle, Elísio Lopes e Davi Nunes.

Ao longo da Bienal do Livro Bahia, alguns desses nomes, como Eliana Alves Cruz e a própria Cássia Valle, estiveram no estande da editora para sessões de autógrafos e bate-papo com os leitores.

O responsável pelo espaço, Francisco Jorge, comemorou a receptividade do público que está visitando o evento desde a última quinta-feira (10). “A receptividade tem sido muito boa. Muitas pessoas vêm aqui e se interessam pelas nossas obras e pelo nosso trabalho”, contou.

Escreva Garota

Este ano também a Bienal do Livro Bahia recebeu o estande do coletivo Escreva Garota, um grupo de apoio criado há pouco mais de dois anos pela escritora Lella Malta cuja finalidade é ajudar escritoras independentes a se inserirem no mercado literário.

A escritora Diana Correa, que integra o coletivo, conta que escritoras independentes geralmente não têm oportunidade de participar de grandes eventos, de modo que iniciativas dessa natureza são fundamentais para elas se tornarem conhecidas do grande público.

“Se tem uma menina que saiba um pouco mais de alguma área ela já ajuda a outra e é assim que a gente vai crescendo”, disse. Além de vender os livros das autoras que compõem o coletivo, o estande sediou sessões de autógrafo com as escritoras. 

Trem Fantasma baiano

Sim! Salvador tem uma editora especializada em quadrinhos, mas que pouca gente daqui conhece. Este ano, a Trem Fantasma trouxe para a Bienal do Livro Bahia o seu catálogo com um super desconto. A empresa trabalha basicamente com vendas pela internet, através do serviço de clube de assinatura, e praticamente todos os envios são para fora de Salvador. De modo que a editora aproveitou o evento no Centro de Convenções para se tornar mais conhecida na sua cidade.

O expositor Marcello Fontana conta que a Trem Fantasma está relançando a HQ Conto dos Orixás, do artista baiano Hugo Canuto. Além disso, o estande contou com as presenças de quadrinistas locais que fizeram artes ao vivo para o público.

“Artistas como o Bruno Marcello e Oliver Borges ocuparam a mesa para fazer desenhos ao vivo para quem quisesse algum personagem”, disse. O espaço também sediou sessões de autógrafos com autores do seu catálogo.


Juntos somos mais fortes

Este ano, a Bienal do Livro Bahia trouxe também uma novidade que representa a união do mercado editorial brasileiro. O Boulevard literário reúne em seu complexo cinco grupos editoriais e mais de 1500 títulos diferentes. A coordenadora do espaço, Claudia Machado, conta que o modelo surgiu da parceria da GL Events com a distribuidora de livros Catavento.

O projeto já havia sido implantado com sucesso nas bienais do Rio de Janeiro em 2019 e 2021 e na Bahia não está sendo diferente. Para se ter uma ideia, só nos três primeiros dias de evento já havia sido faturado mais de R$ 120 mil.

A ação funciona da seguinte forma: as editoras pagam pelos módulos e toda a negociação dos produtos fica a cargo da Catavento. Assim lucros e despesas são compartilhados abrindo a possibilidade de editoras menores também poderem participar de um grande evento, como é a Bienal do Livro Bahia.

Para Claudia Machado, a grande vantagem do Boulevard é o fato dos leitores encontrarem em um só espaço grande parte do mercado editorial brasileiro. “Aqui você chega e acha tudo o que está procurando sem precisar ficar correndo em vários estandes”, disse.

Além da venda de livros, muitos com desconto, o Boulevard realizou uma sessão de autógrafos com o autor André Vianco.


Casa das editoras baianas

A Prefeitura Municipal de Salvador, através da Fundação Gregório de Matos (FGM), foi outra parceira de peso da Bienal do Livro Bahia. A FGM instalou no Centro de Convenções a Casa das Editoras Baianas, espaço que reuniu 10 editoras do nosso estado que puderam comercializar seus catálogos e realizar palestras e debates com diferentes nomes da nossa literatura.

Além disso, foi lançado o projeto Literatura Inclusiva, realizado em parceria da FGM com a Casa Civil, que traz os livros Boca de CenaO Livro das Histórias que se Misturam e Aventuras e Travessuras no 2 de Julho em braile, com o intuito de promover a inclusão de crianças portadoras de baixa visão, ou cegas congênitas, dentro dos espaços comunitários na cidade de Salvador. Foram confeccionados ainda jogos em Libras para as Bibliotecas Municipais e Comunitárias da capital baiana. 

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